O trabalho híbrido, ou seja, a integração entre o trabalho presencial e o home office, já era adotado por muitas empresas como uma forma de oferecer mais qualidade de vida aos colaboradores. A possibilidade de home office alguns dias na semana era tratada com um benefício, assim como a flexibilidade de horários.
Com a pandemia, as empresas tiveram que ser ágeis para buscar saídas que garantissem a produtividade sem a possibilidade da presença física. Passado o susto inicial, empresas e seus colaboradores começaram a perceber a viabilidade do home office, estimulando um certo encantamento com seus ganhos.
Para as empresas, a economia gerada com a redução de viagens, gastos de transporte e redução da estrutura física foi enorme. Do lado dos colaboradores, a economia de tempo e a ausência do estresse provocado pelo fim dos deslocamentos, além da possibilidade de fazer parte da rotina da casa e da família elevaram os níveis de satisfação e reconhecimento de valor ao modelo.
No entanto, o tempo foi passando e o otimismo encontrou alguns obstáculos reais: o aumento da carga de trabalho frente ao computador, gerando, muitas vezes, a fadiga da autoimagem e a impossibilidade de intervalos e, principalmente, a solidão dos que moram sozinhos e a exaustão de quem precisa gerenciar as rotinas profissional, educacional e doméstica familiar.
Vários sintomas vieram à tona – ansiedade, depressão e tantos outros que levam a um quadro de burnout – assim como baixo engajamento, conflitos gerados por ruídos de comunicação e, até mesmo, uma onda de pedidos de demissão.
Recentemente o mercado começou um movimento de incorporação do trabalho híbrido como estratégia de gestão de pessoas impulsionado pela ampliação da imunização da população economicamente ativa.
Estudos demonstram que o trabalho híbrido se apresenta como o favorito num mundo pós-pandemia. Isso porque com ele, os dias da semana podem ser alternados entre a casa e o escritório, oferecendo mais liberdade aos colaboradores o que propicia o aumento da satisfação, do foco às prioridades estratégicas e da produtividade aos momentos presenciais, além do escritório físico poder contar com um espaço menor, o que torna mais barato mantê-lo.
Recente pesquisa da Korn Ferry aponta uma tendência ao home office: mais de dois terços dos 581 profissionais ouvidos nos Estados Unidos (70%) apontaram que trabalhar remotamente é o novo normal e retornar à rotina do escritório seria “difícil”. Ainda, mais da metade (55%) acredita que voltar para o escritório, em vez de trabalhar em casa, gera um estresse. Além disso, 58% pensam que admitir ao chefe que preferem continuar trabalhando remotamente pode prejudicar suas chances de crescer na empresa.
Desafios do trabalho híbrido
O home office acabou gerando muita exaustão para as equipes nos últimos meses. Isso se deve ao fato de que ainda não há um modelo consolidado para avaliar de forma segura o paradigma autonomia versus produtividade.
Muitas empresas não estavam preparadas para fornecer todas ferramentas de gestão que fugissem do modelo comando controle aos seus líderes e aos seus colaboradores, fazendo com que os mesmos se sentissem incapazes de dar conta de maneira efetiva frente aos seus desafios de desempenho e crescimento.
A pandemia em si teve um impacto muito grande na saúde mental dos colaboradores que passaram a conviver ainda mais com a depressão e a ansiedade. Em pesquisa recente do Runrun.it, realizada com 1.500 pessoas, os dados apontam que 43% delas estavam com dificuldades de se desconectar no fim do expediente. Com o trabalho dentro de casa, ficou difícil separar os momentos de produtividade e lazer.
O trabalho híbrido reúne o melhor dos dois mundos, ao trazer tanto a rotina do presencial como o conforto do home office. Em dias necessários, os colaboradores podem se encontrar presencialmente para definir questões importantes e realizar reuniões que exigem maior proximidade, por exemplo.
Esse modelo de trabalho só dará certo se houver um excelente planejamento de implantação que considere a realidade de cada colaborador, suas preferências, dores e necessidades. O jargão “ter a pessoa certa, no local certo, fazendo com as pessoas certas” nunca foi tão acertado.
A máxima que deve ser respeitada é: se uma pessoa está remota, todas as outras estão. Ou seja, se alguém não está presente fisicamente, então todas as diretrizes devem ser passadas igualmente a todos, por meio da plataforma de preferência adotada pela empresa. Somente assim é possível garantir que todos estejam na mesma página. Isso oferece segurança psicológica a todos os colaboradores, pois eles sabem que se não estiverem presentes fisicamente em determinado dia, não serão punidos com a desinformação e, consequentemente, com algum dano ao seu trabalho.
Essa empatia é necessária para assegurar a inclusão de todos nas etapas de processos que lhes concernem. Se o ambiente digital não for o padrão, aqueles que se encontram fora da bolha do escritório vão sendo progressivamente excluídos, gerando frustração. Assim como a transparência gera confiança, a falta dela cria incertezas e desconfortos que podem levar até ao pedido de demissão.
E então, como adotar/gerir/lidar com esse modelo?
As organizações já conseguem implementar o trabalho híbrido ampliam a igualdade e a inclusão, o senso de pertencimento, a possibilidade do trabalho assíncrono – ideal para colaboradores que estudam, têm picos produtivos e filhos -, conseguem contratar colaboradores de qualquer lugar – o que amplia a diversidade e, consequentemente, o know-how corporativo – e incentivam a liberdade de atuação de cada um, o que aumenta a satisfação com o trabalho. Mas, para que o trabalho híbrido funcione bem, é preciso que os gestores se atentem a alguns pontos essenciais:
1- Crie maneiras de compartilhar ideias e impressões
É interessante, por exemplo, ter uma reunião semanal com a maior parte possível dos colaboradores para que eles se sintam parte do todo e possam compreender o que se passa em outros setores da empresa. É claro que essa reunião deve ser transmitida on-line para que todos possam ter acesso. Somente assim as pessoas têm clareza do que está sendo realizado e para onde a empresa está indo.
2- Tudo precisa estar na nuvem e ser compartilhado
Como abordamos anteriormente, é imprescindível implementar totalmente o uso de ferramentas on-line. Nesse sentido, não adianta ter contratado plataformas se nelas o colaborador não consegue encontrar todas as informações. Crie uma central única de armazenamento, comunicação, registrando dados, senhas e documentos gerados e de uso da empresa.
3- Tenha processos
Complementando o tópico anterior, é necessário que todos os colaboradores contribuam para o funcionamento da ferramenta. Então, é fundamental que haja um processo de registro de atividades e demais documentos nas plataformas. Somente assim elas serão efetivamente utilizadas por todos.
4- O digital é mais importante que o analógico
Como falamos, para que o trabalho híbrido funcione, é preciso que ele seja bem mais digital do que analógico. Sendo assim, é necessário que o gestor mapeie o ambiente de colaboração da equipe e assim consiga criar ambientes fluxos totalmente digitais.
5- Comunicação imediata para comunicação assíncrona
Com cada um trabalhando no seu ritmo, não é possível acreditar que as mensagens sejam respondidas imediatamente. Porém, enquanto o modelo estiver sendo implementado é indicado que algumas pessoas-chave estejam on-line enquanto a maioria dos colaboradores também estiver. Isso é essencial para esclarecer dúvidas e tornar a adaptação menos traumática.
6- Tenha indicadores realistas de mensuração
Encontre uma maneira de acompanhar o trabalho dos colaboradores. Analise métricas e valide-as com as partes envolvidas para que sejam as que realmente importam, também é importante sinalizar quais metas estão sendo alcançadas. Atenção: quantidade de horas de trabalho não é uma boa métrica.
7- Introduza rotinas
Mesmo no virtual é possível estabelecer rotinas. As pessoas gostam de rotinas e tendem a funcionar melhor com elas, pois já sabem o que esperar. Isso também contribui para que o senso de pertencimento e inclusão sejam construídos e sustentados no cotidiano.
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