Minimalismo e Carreira: menos status e mais realização

É comum a ideia de que uma carreira de sucesso deve ser atrelada à percepção de status e poder. Poder no sentido de ter posses, títulos, bens materiais, staff – gente subordinada para confirmar nossa relevância e capacidade de realização. Na contramão desse pensamento, vem se popularizando o conceito de minimalismo, que pode ser também aplicado à carreira.

O minimalismo amplia nossa consciência, nos obriga a rever as coisas que valorizamos e remover tudo que nos distraia, ocupe e aprisione. Quando o sucesso profissional tem como base o nível de felicidade (parâmetros internos) e não a admiração social (parâmetros externos) certamente pode ser facilitado pelo estilo de vida minimalista.

Sabe a ideia de ser feliz quando nossos desejos e metas forem realizados?

Quando arrumar emprego na empresa X, quando fizer o MBA, quando meu inglês for fluente, quando mudar de emprego, quando for promovido, quando me demitir… Quando, quando, quando… Tal condicionamento está ligado às nossas projeções do que acreditamos que esperam de nós. Ou para nos sentirmos admirados, invejados e validados como pessoas especiais. No entanto, todo o bem-estar gerado pela conquista rapidamente se desfaz. Outros desejos surgem e um círculo vicioso se inicia, gerando mais ansiedade, culpa, angústia, estresse e limitações de tempo e espaço para cuidar de si e de quem se ama.

MINIMALISMO COMO ESTILO DE VIDA

A ideia central do estilo de vida minimalista é romper com a crença de que o consumo exagerado seja gerador de abundância, paz, felicidade e liberdade. A proposta é se libertar da busca incessante por ter cada vez mais bens materiais, que geram sobrecargas de trabalho, compromissos e obrigações amplificando todo o esforço para manter o padrão construído até causar estresse físico e emocional.

Um grupo crescente de pessoas têm se dado conta de que estamos acabando com os recursos naturais do planeta, gerando cada vez ansiedade, depressão, violência, desigualdade. Estamos pagando tal distorção com um alto índice de endividamento financeiro, perdemos nossa mobilidade, reduzimos a fluidez da vida e relações interpessoais. O fato é: estamos, literalmente, chafurdando em nossos próprios pertences e/ou lixo.

TER SUCESSO PROFISSIONAL E SER MINIMALISTA É POSSÍVEL?

O minimalismo está ligado ao autoconhecimento: saber o que realmente importa, quais são suas reais necessidades, o que há por trás da ideia de preencher sua vida com tanta competição, compromissos, prêmios, dinheiro e etc.

Ao iniciar esse processo de forma consciente e comprometida é possível reavaliar suas prioridades e, em seguida, abrir mão dos excessos que não agregam valor à sua vida – sejam coisas, ideias, relacionamentos e atividades. Dessa forma torna-se mais fácil reconectar-se com seus dons e talentos, encontrar seu propósito, investir na vivência dos seus valores e identificar empresas, parceiros, colegas, líderes e fornecedores que compartilhem dos mesmos.

Com o minimalismo o foco deixa de ser no material e no imediatismo. Ele migra para a vivência de experiências significativas, o trabalho com propósito e a conexão com pessoas que signifiquem mais do que coisas que você possa possuir. Como consequência, os bens materiais ganham outro papel em nossas vidas, nos relacionamos de outra forma com eles. Inevitavelmente, o consumo passa a ser mais consciente e simplificado, reduzimos o desejo do acúmulo de coisas, rompemos com o medo da escassez. Aliás abrimos espaço para a confiança e isso muda todo o nosso sistema. Ressalto que segundo pesquisas da MH Canadense e de Harvard, a percepção da felicidade vem de fatores como a autorrealização, relacionamentos interpessoais significativos, otimismo e autoestima, ou seja fatores imateriais, que não podem ser comercializados, comprados, estocados ou fabricados.

COMO O MINIMALISMO PODE SER APLICADO NO COTIDIANO PROFISSIONAL?

  • Tente parar de pensar no trabalho como um estoque de horas, um almoxarifado de conhecimentos ou um sistema gerenciador de coisas, atividades, pessoas, etc. Reflita que é possível transformá-lo num espaço de trocas, de vivências significativas, útil para nós e todos que fazem parte dele já é um bom começo.
  • O apego às coisas, cargos, líderes, processos e conquistas passadas torna a vida pouco fluida e próspera. Gera uma falsa sensação de segurança que não se sustenta, por isso gastamos tanto tempo e energia para deixar tudo do nosso jeito, criando confrontos desnecessários. A ordem é deixar fluir.
  • Investigue o espaço que o profissional tem ocupado em sua vida. Excesso de trabalho pode servir como uma válvula de escape, uma fuga de algum outro aspecto da vida onde ainda não é possível dedicar-se com tanto afinco. Por exemplo: aprender a identificar e lidar com nossas máscaras que tentam esconder nossas inseguranças, medos, vergonhas, raivas e todos aspectos das matrizes do eu inferior, das quais evitamos o contato.
  • Tenha o mínimo necessário para trabalhar bem, descartando regularmente o excedente – equipamentos, objetos, reuniões, burocracia, processos engessados.
  • Decore o local de trabalho com móveis multifuncionais, preferencialmente sem gavetas. Priorize prateleiras abertas em vez de armários (para não cair na tentação de esconder as bagunças). Descarte com regularidade anotações antigas, recibos sem importância, cadernos usados. Arquive na nuvem de forma organizada tudo o que for relevante e reutilizável.
  • Busque equilíbrio entre as experiências – aprendizados informais, viagens, desafios, cursos, encontros com experts, mentores, líderes inspiradores, colegas confiáveis e aspectos materiais – salário, pacote de benefícios, estabilidade e etc.

Procure lembrar que a carreira é um aspecto importantíssimo em nossa vida. É o nosso fazer no mundo, nosso propósito em ação e o amor em movimento, mas não é tudo. Encher a vida de compromissos profissionais, metas inalcançáveis, relações de interesse exclusivamente comercial, para obter status e bens materiais pode se tornar uma estratégia perigosa para fugir do encontro consigo mesmo.

Nada, nem ninguém, pode nos impedir de investir em aspectos importantes de nossas vidas familiar, social, intelectual, atividades físicas, alimentação, espiritualidade. Só nós mesmos!

– Publicado originalmente em Personare

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