Autoras: Ana Lucia Viçoso e Suzana Tavares
Apresentamos neste artigo nossa experiência com a jornada de implementação da estratégia de impacto socioambiental positivo na Humanare, uma empresa de Desenvolvimento Humano e Organizacional, que se tornou Empresa B em dezembro de 2021.
No início de 2020, fomos convidadas pelas então sócias da Cicclos: Adriana Schneider e Renata Aranega, a apoiá-las no processo de obtenção do Selo de Empresa B.
Para quem não sabe, Empresas B, são empresas que comprovam o atendimento a altos padrões de desempenho social e ambiental, a critérios de transparência e de responsabilidade legal em equilibrar lucro e propósito. São empresas que se preocupam em ser melhor PARA o mundo e não apenas as melhores DO mundo, e, para comprovar seu modelo de negócio de impacto e suas práticas positivas, passam por um rigoroso processo de avaliação de impacto.
Como todo trabalho de desenvolvimento organizacional, iniciamos com um diagnóstico de onde a empresa se encontrava. É justamente este o potencial da ferramenta de avaliação de impacto B (ou BIA – B Impact Assessment) que oferece a oportunidade de avaliar as boas práticas de impacto da empresa nas dimensões de governança, comunidade, trabalhadores, meio ambiente e comunidade.
A fase 1 do nosso trabalho consistiu, então, em entender o Modelo de Negócio da Cicclos, seus relacionamentos com stakeholders e realizar um diagnóstico, utilizando o BIA.
Na primeira vez que uma empresa realiza a avaliação de impacto B, abre-se uma janela de novas possibilidades: práticas de impacto positivo ainda não vislumbradas, algumas muito simples, como medir seu consumo de luz e estabelecer metas de redução, vão surgindo e começa a se perceber um futuro emergindo com novas e lindas possibilidades que são fontes de inspiração para um plano de melhorias.
Neste primeiro momento, a Cicclos não conseguiu a pontuação mínima necessária para pleitear a certificação B, mas saímos desta fase com a construção de cenários de desenvolvimento possíveis para uma estratégia de impacto e uma relação de ações de melhorias a serem priorizadas e implementadas.
Foi então que entramos na segunda fase do nosso trabalho: apoiar a Cicclos na implementação de seu plano de ação para o impacto. Isto incluiu desde a realização de um workshop para identificação de propósito e revisão de missão, visão e valores, à luz da estratégia de impacto, até a criação de Políticas de Diversidade e de Relacionamento com Stakeholders, Política Ambiental, Programa Social, Código de Ética e Conduta e um Modelo de Governança com indicadores de satisfação e de impacto e modelo de relatório de impacto.
Foi um trabalho longo. Alguns meses com reuniões toda segunda e quarta às 7:30 da manhã, além de alguns finais de semana, para poder conciliar com todas as nossas demais atividades, mas o resultado foi muito gratificante pois pudemos ajudar a Cicclos a materializar todas as melhorias imaginadas e priorizadas a partir da fase 1. Ao término desta fase, estava tudo definido. Todas as políticas e modelos construídos e de alguma forma em implantação, mas ainda faltava algo. Era preciso colocar a mão na massa e identificar o que precisaria ser alterado nos processos internos da Cicclos, para que toda estratégia e políticas definidas começassem a “rodar” na empresa. Os “POR QUEs” e “O QUEs” estavam definidos. Vários “COMOs” também, mas ainda não estavam na cultura e no dia a dia da Cicclos. Para isso, seria necessário que a Cicclos implementasse várias ações, além de realizar toda a apuração do seu impacto em 2020 para poder materializá-lo na avaliação de impacto B.
Não era nossa intenção inicial entrar no detalhe operacional da Cicclos, mas entendemos que, naquele momento, se não nós, quem? Foi então que aceitamos o convite para a terceira fase da jornada: colocar a mão na massa e ajustar os procedimentos de sustentabilidade aos processos internos; adequar pesquisas de impacto e satisfação, gerar os indicadores e relatório de impacto para o ano base de 2020, treinar os colaboradores nos novos procedimentos. Como se já não fosse um belo desafio, fomos surpreendidas no caminho pela transformação da Cicclos em Humanare: uma empresa igual na essência, mas com novos sócios, nova estrutura, novos processos, novas pessoas e novo alcance.
Ao final de todas as nossas entregas, concluímos com um novo preenchimento da Avaliação de Impacto, agora sim, conseguindo uma pontuação acima de 100, o que nos deu conforto para seguir no pleito da certificação. Em dezembro de 2021, a Humanare foi certificada com o Selo de Empresa B com 97,2 pontos, coroando todo esforço e propósito deste 1 ano e 9 meses de trabalho. É indescritível nossa felicidade com esta marca.
Podemos dizer que obter o Selo de Empresa B, foi o gatilho para todo este processo, mas o ponto de partida foi a determinação das sócias em materializar e ampliar todo impacto positivo que a Cicclos já realizava, dando clareza ao seu Modelo de Negócio de Impacto e permitindo, a partir deste ponto, a construção de métricas e indicadores claros que dão visibilidade ao impacto socioambiental gerado.
Para nós, muito mais importante que a obtenção do selo, foi o caminho de desenvolvimento para impacto que percorremos juntas – Humanare é de certa forma uma resultante desta jornada.
Inúmeros aprendizados foram identificados, mas vale destacar alguns que são chaves: a importância do engajamento do CEO para um real entendimento e patrocínio das estratégias de impacto; a necessidade de ter um ponto focal na empresa não apenas para participar da definição e implementação da estratégia de impacto, mas sobretudo para mantê-la ativa e operacional e em evolução contínua; a necessidade de se revisitar os processos do negócio e realizar os ajustes necessários para que as políticas entrem em ação; a importância de ouvir e engajar os stakeholders no processo.
Gratidão à Adriana Schneider por sonhar e ousar sempre, levando até o fim esta jornada.