Fui líder por 20 anos e nem sabia o que realmente era um time!

Minha carteira de trabalho foi assinada aos 16 anos, e aos 19 já estava liderando minha primeira equipe. Aos 21, empreendi, e aos 34, construí uma carreira executiva de sucesso como intraempreendedora, liderando pessoas com paixão. Sempre gostei de times grandes, de alta performance, ambientes humanizados e, claro, de reconhecimento. As promoções e prêmios foram provas disso. O time que mais amei, no meu período corporativo, era enorme: 197 pessoas dedicadas a projetos de educação corporativa, tecnologia educacional e sustentabilidade.

Recentemente, após um dos momentos mais marcantes da minha trajetória – o Palco Humanare no Rio Innovation Week – soube, em um happy hour de celebração, que muitos daquela equipe achavam que eu colocava a régua alta demais. Que entregávamos muito além das outras áreas de negócios e que eu nunca desacelerava. Essa crítica nunca tinha chegado até mim.

Tomei mais uma taça de vinho e, durante vários dias, tentei lidar com a “ressaca moral” desse feedback, que feriu meu ego. Como assim? Todos crescemos juntos, fizemos coisas incríveis, o clima era ótimo, cheio de amizades, caronas solidárias, trilhas sonoras e celebrações. Eu me achava uma líder próxima, parceira e respeitosa, mas percebi que na época não sabia o que era realmente liderar com segurança psicológica.

Hoje, com 52 anos e os últimos 10 dedicados a empreender em uma consultoria que promove autoconhecimento como ferramenta de transformação organizacional, percebo que, mesmo com bons resultados e um ambiente positivo, meu time carecia de segurança psicológica. Naquela época, eu não compreendia que liderar mais de 16 pessoas de forma próxima, escutando e propondo caminhos de desenvolvimento para todos, era humanamente impossível.

Na prática, meu time direto era formado pelos gerentes e coordenadores que me reportavam, e eu perdi muito tempo e energia tentando ser presente e comunicar com clareza para todos. Embora minha jornada tenha sido cheia de vitórias, eu entendo agora que, em muitos momentos, falhei como líder.

A segurança psicológica vai além do clima do ambiente; trata-se da qualidade das relações entre pessoas que trabalham juntas e se sentem confortáveis para correr riscos, expressar opiniões, compartilhar ideias e aprendizados sem medo de retaliações. Em times muito grandes, é difícil alcançar esse nível de confiança e vulnerabilidade.

Se você lidera ou faz parte de um time, pergunte-se:

  1. As pessoas se sentem confortáveis para expor ideias e fazer perguntas diante dos outros?
  2. Elas conseguem dar suas opiniões em reuniões, mesmo que sejam diferentes da maioria?
  3. Sentem que é seguro assumir riscos e inovar no dia a dia?
  4. Têm medo de julgamento ou retaliação se errarem?
  5. Pedem ajuda à liderança e aos colegas quando precisam?
  6. Os membros da equipe se tratam com respeito?
  7. Há aceitação ou rejeição a pessoas diferentes?
  8. Quanto mais respostas “não”, maior a chance de estar num ambiente inseguro, onde nem os resultados extraordinários geram bem-estar. Hoje, entendo a importância do comportamento de cada membro do time e sei que o líder deve se comprometer em promover a segurança psicológica para todos.

Hoje, tenho clareza de que liderar é mais do que alcançar metas; é sobre criar um ambiente onde todos se sintam seguros para serem quem são, errar, aprender e crescer juntos. Como disse Amy Edmondson, maior expert segurança psicológica da atualidade:

“Liderança não é sobre estar no comando, é sobre cuidar daqueles que estão sob sua responsabilidade.”

Como líderes, é nosso dever nutrir relações de confiança e acolhimento. Só assim construímos times que se sentem valorizados e motivados a darem o seu melhor, todos os dias.

Se não nós, quem? Se não agora, quando?

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